Transições
Sobre o pós-morte
Segundo os Órficos
O Orfismo era um dos cultos de mistério da Grécia antiga que se desenvolveu por cerca do século VI AEC. Orfeu era conhecido por seus talentos poéticos e musicais. O Orfismo era movimento de contra-cultura, cujos princípios centrais eram mitos alternativos, uma vida de pureza estrita, práticas ascetas como vegetarianismo, e a crença na reencarnação. Para os gregos antigos, a 'reencarnação' era chamada normalmente de 'transmigração da alma'. Como vimos, essa crença não pertencia apenas aos Órficos. Pitágoras, Píndaro e Platão também falavam dela. E essa crença, independente de em que círculo era discutida, permanecia amplamente idêntica. Porém, o único contexto no qual ela pode ser plenamente explicada é no Orfismo. Para entender isso, primeiro temos que conhecer o mito de desmembramento do deus-infante Dionísio Zagreu. Há um mito que diz que Dionísio – chamado de Zagreu – seria filho de Zeus e Perséfone, Rainha do Submundo. Hera faz os Titãs atraírem a criança com brinquedos e então eles o rasgam em pedaços, colocando-o num caldeirão e comendo tudo exceto pelo coração de Zagreu, quando ele é salvo por Atena (ou Deméter, em outras versões). Zeus reconstitui seu filho através do coração e o implanta em Sêmele, que gera um novo Dionísio Zagreu, que reaparece em Elêusis como Iaco. Essa versão do retalhamento e fervura em caldeirão veio do Hino Órfico, e desse antigo relato se formou parte da posterior mitologia religiosa dos órficos. Orfeu escreveu: "Os Titãs, ciumentos da sua beleza, e as Titânides, tomadas de um amor louco, lançaram-se sobre ele e fizeram-no em postas. Depois, distribuindo entre si os seus membros, fizeram-no ferver em água e enterraram o seu coração. Júpiter fulminou os Titãs e Minerva levou para o Éter o coração de Dioniso e, ali, ele tornou-se um sol ardente. Porém, da exalação do corpo de Dioniso, saíram as almas dos homens que sobem para o céu." Zeus, furioso, teria então atingido os Titãs com seus raios, reduzindo seus corpos a cinzas. E a raça dos humanos teria sido criada dessas cinzas. Por isso, somos parte terrenos (por causa dos corpos dos titãs, que eram filhos de Géia) e parte divinos (uma vez que o Dionísio desmembrado estava no estômago deles). Temos o físico da Terra e a alma de Dionísio. O fato da culpa de sangue estar inerente a nossos ancestrais repousa na raiz da causa da reencarnação segundo a tradição órfica. Por causa de nossos ancestrais, os Titãs, terem matado o deus Dionísio, nós herdamos essa culpa. Mas isso parece um tanto fatalista, não? O que podemos fazer? Eles dizem que o que nos permite expiar isso, seria a pureza. Isso inclui rituais de purificação, ofertas aos deuses, e uma vida de asceticismo. Os sacerdotes órficos, segundo Platão, "podem expiar e curar com festivais prazerosos qualquer delito de um homem ou de seus ancestrais" (Platão, em 'Fedro'). Um papiro órfico antigo diz: "Eis por que o mago executa o sacrifício, como se estivesse pagando uma penalidade". Infelizmente, não sabemos muito sobre o ritual verdadeiro. Até hoje, os arqueologistas só acharam um fragmento de um ritual que se acredita ser órfico. Eis duas linhas dele: "Aceita minha oferta como pagamento por meus pais sem-lei. Salve-me, grande Brimo.” Brimo é outro nome para Perséfone. Uma vez que recebêssemos essas purificações e tivéssemos feito nossas ofertas, deveríamos nos manter nesse estado de pureza. Por isso que a prática ascética era recomendada. Os órficos rejeitavam o materialismo, e tinham especial desdém pelo corpo físico. Os órficos tinham um ditado, "soma-sema", que quer dizer que o corpo é um túmulo ou uma prisão para alma. Platão também falou nisso: "Alguns dizem que o corpo é o túmulo (sema) da alma, como se esta estivesse enterrada nele. Por outro lado, por a alma se expressar através do corpo, este pode ser certamente chamado de um sinal (sema). Parece, para mim, porém, que primariamente os seguidores de Orfeu lhe deram esse nome; quase como se a alma que está em delito devesse os expiar e encontrasse em torno de si essa clausura, semelhante a uma prisão, a fim de ser guardada. Tal prisão, portanto, como o nome sugere, é um estojo (soma) para a alma até que suas dívidas sejam pagas, e nada precise ser mudado, nem mesmo uma única letra" (Platão, 'Crátilo). Então, deveríamos rejeitar o mundo material, uma vez que ele representa apenas a prisão da alma em um corpo material, uma punição pelo pecado de sangue de nossos ancestrais titânicos. Mas e o livre-arbítrio? Nós somos punidos por algo anterior e forçados a reencarnar na terra? Os órficos explicam que, após a morte, a alma da pessoa é levada ao Submundo. Depois de caminhar pelo caminho um pouco, chegamos a uma fonte perto de um cipreste brilhante. Embora estejamos sedentos, não devemos beber da fonte, pois é a água do Léthe, o Esquecimento. Em vez disso, devemos passar por ela e só beber da segunda fonte, chamada Mnemosina, a Memória. Essa é uma decisão muito importante, porque se bebermos do Lethe esqueceremos e se bebermos da Mnemosina lembraremos. Mas do quê? Da nossa última vida na Terra. Lembraremos quaisquer lições que aprendemos, e lembraremos o quão difícil trabalhamos para nos manter puros. Porém, há guardiões na fonte. Eles só vão nos permitir beber se soubermos a coisa correta a dizer, que seria algo do tipo: “Sou uma criança da Terra e do Céu Estrelado. Eu estou morrendo de sede. Agora deixa-me beber das águas frias da Mnemosina.” Depois disso, eles nos deixam beber e nós ficamos com nossas memórias. Essas instruções estavam gravadas em uma tábua dourada que foi enterrada no túmulo de um órfico. Tábuas similares foram encontradas com idéias similares nelas, embora nenhuma tenha palavras idênticas. Provavelmente eram tábuas dadas aos órficos por seus sacerdotes no momento da iniciação. Embora não se diga que Perséfone é um dos guardiões, podemos assumir que ela é. Em outra tábua, encontramos uma pessoa morta se dirigindo a Perséfone, e a pessoa deveria dizer o seguinte: "Puro eu venho da pura, Rainha do que há abaixo da terra; e Eukles e Eubouleus e os outros deuses e espíritos; Pois eu me orgulho de ser da sua raça abençoada. Eu paguei a penalidade por minhas ações injustas; Tanto o Destino me conduzia quanto o Trovejante que me atingia com seus raios. Agora eu venho, um suplicante, à sagrada Persefoneia, que ela, graciosa, possa me enviar para os assentos dos abençoados". Ao declararmo-nos 'da raça abençoada' nos referimos àquela parte de nós que é divina, nossa alma. Em vez de nos explicarmos em termos de emprego ou família, nós nos definimos em termos de uma linhagem de pessoas ritualmente purificadas e em termos de uma ligação com os deuses. Declaramos que pagamos a penalidade por purificações anteriores e por viver uma vida ascética. Se verdadeiramente atingimos esse estado de pureza e reparação, podemos pedir a Perséfone que nos envie para os assentos dos abençoados. Outro texto recentemente descoberto diz "Entre na campina sagrada. Pois o iniciado pagou seu preço". Uma vez lá, não retornaremos à Terra. A única razão para voltarmos é continuar a pagar a penalidade. Porém, uma vez paga, nós nos livramos do ciclo da vida/morte/renascimento. Em suma, para eles, ao menos que recebamos purificações e instruções de um sacerdote órfico, não iremos saber de qual fonte beber, ou o que dizer à Rainha da Morte. Se não seguirmos o curso correto das ações, colocamos tudo em movimento para acabarmos voltando aqui de novo e de novo.
Segundo A República, de Platão
No final de 'A República', Platão conta um mito sobre um herói a quem foi permitido voltar dos mortos para contar ao mundo como era o outro lado. Nessa versão, aparece a ideia do renascimento. Eis alguns resumos do mito: "O pastor Er, da Pamfília, é conduzido pela deusa até o reino dos mortos, para onde segundo a tradição grega, sempre foram conduzidos os poetas e adivinhos. Ele encontra as almas dos mortos serenamente contemplando as ideias. Devendo renascer, as almas serão levadas para escolher a nova vida que terão na Terra. São livres para escolher a nova vida terrena que desejam viver. Após a escolha, são conduzidas por uma planície onde correm as águas do rio Léthe (esquecimento). As almas que escolheram uma vida de poder, riqueza, glória, fama ou vida de prazeres, bebem água em grande quantidade, o que as faz esquecer as ideias que contemplaram. As almas dos que escolhem a sabedoria quase não bebem das águas e por isso, na vida terrena, poderão lembrar-se das ideias que contemplaram e alcançar, nesta vida, o conhecimento verdadeiro. Desejarão a verdade, serão atraídas por ela, sentirão amor pelo conhecimento, porque vagamente, lembram-se de que já a viram e já a tiveram." (versão de ODialetico.hpg.com.br) "O pastor Er, da região da Panfília, morreu e foi levado para o Reino dos Mortos. Ali chegando, encontra as almas dos heróis gregos, de governantes, de artistas, de seus antepassados e amigos. Ali, as almas contemplam a verdade e possuem o conhecimento verdadeiro. Er fica sabendo que todas as almas renascem em outras vidas para se purificarem de seus erros passados até que não precisem mais voltar à Terra, permanecendo na eternidade. Antes de voltar ao nosso mundo, as almas podem escolher a nova vida que terão. Algumas escolhem a vida de rei, outras de guerreiro, outras de comerciante rico, outras de artista, de sábio. No caminho de retorno à Terra, as almas atravessam uma grande planície por onde corre um rio, o Lethé (que, em grego, quer dizer esquecimento), e bebem de suas águas. As que bebem muito esquecem toda a verdade que contemplaram; as bebem pouco quase não se esquecem do que conheceram. As que escolheram vidas de rei, de guerreiro ou de comerciante rico são as que mais bebem das águas do esquecimento; as que escolheram a sabedoria são as que menos bebem. Assim, as primeiras dificilmente (talvez nunca) se lembrarão, na nova vida, da verdade que conheceram, enquanto as outras serão capazes de lembrar e ter sabedoria, usando a razão." (versão de Marilena Chauí) "Er, um pastor da Panfília que, morto em batalha, após dez dias é encontrado com seu corpo intacto entre centenas de cadáveres putrefatos. Levado para casa a fim de que se cumprissem os ritos funerários, já estendido sobre a pira de cremação, no décimo segundo dia após sua morte, Er acorda, levanta-se e põe-se a narrar o que viu no além. O pastor havia estado entre os juízes que separavam as almas boas das ruins, dando-lhes as sentenças conforme haviam vivido seus dias encarnados. Er estivera entre almas de sábios, heróis, antepassados e amigos. Os juízes o haviam escolhido para que, vendo e ouvindo tudo o que ali se passava, pudesse retornar à Terra e contar aos homens o destino que nos reserva o além. Er aprende que as almas renascem indefinidamente para purificar-se de seus erros passados até que não mais precisem reencarnar, quando então passam a residir na eternidade. Compreende ainda que a morte, mero intervalo entre as existências terrenas, é o período em que as almas podem contemplar o conhecimento verdadeiro e ao menos vislumbrar o mundo perfeito das ideias, proposto pela teoria de Platão. Antes de regressarem à nova encarnação, porém, cabe às almas escolherem o que desejam experimentar entre uma infinidade de sortes ou modelos de vida, que lhes são apresentados por Láquesis, uma das três deusas do destino. Há vidas de rei, de guerreiro, de artista, de escravo etc., todas à disposição para que sejam tomadas conforme as necessidades compensatórias do futuro aprendizado. As almas devem ainda escolher seu próximo sexo e local de nascimento, e se querem retornar feito mineral, vegetal, animal ou ser humano. Em seu caminho de volta, porém, elas atravessam vasta planície desértica, sob calor abrasador, que as força a beber das águas de Lethé ("esquecimento" em grego), o rio da despreocupação. Quanto mais bebem, mais esquecem suas vidas anteriores, até que sejam encaminhadas ao local escolhido para o novo nascimento." (versão de Paulo Urban)
Segundo a Odisseia e a Eneida
Ao morrer se iria para os Campos Elísios, onde não há necessidades nem escassez. Não há fome, dor, ou fadiga. O clima é sempre perfeito. Embora haja outras teorias menos conhecidas, como a de que os mais abençoados se transformam em estrelas ou constelações ou, se formos maus, renasceríamos para tentar consertar as coisas. A idéia antiga era de que, na morte, nossa alma e espírito eram levantados por Thanatos e levado ao barco de Caronte. Ele desceria o rio Estige com você, e passaria pelo cão que guarda o próximo mundo, Cérbero, que se certifica de que somente almas passem por ali. O barco ancora e você caminha por uma estrada. À esquerda há um campo de asfódelos (abrótea, um tipo de planta) e à direita está um bosque de árvores de romã. Isso é um teste, se você pegar uma flor ou experimentar da árvore, você será levado de volta à terra como um espírito sem descanso. Então você vai até o saguão dos Três Juízes: Minos, Aiacos e Radamantus. Eles irão olhar para seus feitos passados e ver se sua alma foi pura e livre de transgressões. Tendo estipulado que tudo estava bem, você então caminharia por uns degraus e entraria na presença de Hades (um cara verdadeiramente legal, apesar da aparência de malvado que os filmes lhe dão) e Perséfone (providenciando os movimentos das almas durante o Outono e Inverno, já que nas outras duas estações ela está com sua mãe Deméter). Eles serão seus juízes finais que decidirão para onde você irá. Será lhe permitido dar uma mordida em uma romã, e esse será o ato que irá unir você ao próximo mundo dali adiante. Os verdadeiramente maus irão para o Tártaros. Lá eles serão colocados para trabalhar ou serão torturados por toda a eternidade.
Mapa do Submundo
Carlos Parada, ano 2000, do "Genaeological Guide to Greek Mythology".
Legenda:
Da Eneida (escrita pelo romano Virgílio):
₪ Cuma/Cume - cidade da Campânia, na Itália, onde vivia Sibila.
₪ Olmo dos Falsos Sonhos - onde os sonhos vazios se penduram a cada folha. Os espíritos enviavam os falsos sonhos para o mundo acima.
₪ Sibila - bruxa/profetisa que diz a Virgílio para ir ao Reino dos Mortos, onde ele reencontra seu pai Anquises, o qual lhe revela o porvir, mostrando os futuros homens que imortalizarão o nome de Roma.
Da Odisséia (escrita pelo grego Homero):
₪ Bosque de Perséfone - região fria, com álamos e salgueiros. O Bosque de Perséfone, a Árvore de Tântalos e os Campos Elísios são os únicos lugares do Submundo onde as plantas podem crescer.
₪ Circe - feiticeira que morava em uma ilha, onde Odisseus permaneceu com os argonautas antes de ser ajudado por ela.
₪ Oceano - pai da Estige (rio)
₪ Rocha - o rio Estige flui dessa rocha.
₪ Tirésias - adivinho cego de Tebas, o mais famoso profeta da Grécia Antiga. Uns dizem que ele foi cego por ver Atena nua. Outros dizem que Tirésias estava caminhando quando viu duas cobras copulando; ele se sentou e observou por horas, até que elas o notaram e o atacaram; ele matou a fêmea e ela o transformou em mulher, virando prostituta por sete anos; depois o episódio se repetiu, desta vez matando o macho, e ele voltou a ser homem; Zeus e Hera o consultaram querendo saber qual dos sexos tinha mais prazer, já que ele tinha experimentado os dois; Hera achava que os homens desfrutavam mais do sexo, Zeus dizia o oposto; Tirésias disse que, se pudesse medir o prazer sexual em uma escala de 1 a 10, os homens ficariam no 1 e as mulheres no 9; isso teria irritado tanto Hera que ela o cegou, mas Zeus lhe deu a visão interior (sabedoria e capacidade de prever o futuro), e extendeu sua vida com sete gerações. Foi a sombra dele morto que Odisseus consultou.
Mais Mitologia Grega:
₪ Campina de Asfódelos - região para onde iam os neutros, onde os espíritos viviam a existência insossa de uma sombra ou de um fantasma. Não é um lugar de punição, mas não há prazer e a mente fica confusa e indiferente (c/exceção de Tirésias). Para lá vão as crianças e os que foram condenados à morte em uma acusação falsa e aqueles que se suicidaram.
₪ Campos Elísios - ou Ilha dos Abençoados, um lugar feliz que tem seu próprio sol e estrelas. As almas dali não podem ser agarradas e são como fantasmas, não muito diferente dos da Campina Asfodel. Ali eles se exercitam sobre gramados ou praticam luta corporal amigavelmente nas areias amareladas; alguns dançam e outros cantam ou recitam poemas. Orfeu está ali. Muitos membros da Casa Real de Tróia também. Eles vivem em bosques e se deitam nas margens dos rios e perambulam por planícies luminosas e vales verdejantes. Os Elísios são regidos por Cronos, e ali também vivem os que ainda não nasceram. Estes ficam próximos ao rio Lete (Esquecimento). Eles bebem uma medida da água, os que não tem bom senso bebem mais da medida, e cada um enquanto bebe vai esquecendo todas as coisas. As almas que vão reencarnar bebem do Lete, apagando seus problemas e podendo voltar à existência corporal na terra. Esse desejo estranho (quiçá perverso) pela existência terrena parece ser parte das leis que governam o universo. A humanidade é feita tanto de fogo celestial quanto de barro, então sempre dependem tanto de desejos estúpidos e dores quanto de júbilo. Nem a morte faz-nos deixar de sentir falta de um corpo com todas as maldades que ele encerra. Alguns, porém, ficam no Elísio, sem precisar reencarnar, a fim de recuperar a pureza original, mas a maioria retorna à Terra com as memórias deletadas por beber do Lete.
₪ Caronte - o barqueiro que recebe uma moeda para atravessar as almas pelo Estige até o Hades. Ele não atravessa quem não foi cremado.
₪ Cérbero - cão de caça com voz de bronze e rabo de dragão, que come carne crua e tem 50 cabeças (ou 3 cabeças de cão e várias de cobra nas costas).
₪ Danaides - filhas de Danaus, as 50 esposas e primas dos 50 filhos de Egiptus. Danaus não gosta da idéia do casamento que seu irmão Egiptus propôs, então diz às filhas para matar os maridos na noite de núpcias com alfinetes envenenados enfiados no coração deles. Todas o fazem, exceto por uma que se apaixonou pelo marido e fugiu com ele. Esta depois da morte foi para o Elísio, mas as outras foram forçadas a carregar água em peneiras até o Lete para uma banheira a qual - quando cheia, o que nunca acontecia - seria usada para limpar seus delitos.
₪ Íxion - Criatura horrenda que tenta se casar com uma jovem mulher e só consegue quando incinera os pais dela. Os deuses, vendo isso, o convidam a um jantar no Olimpo para ver se ele era mesmo malvado ou apenas burro. Mas aí ele tenta seduzir Hera, e Zeus manda as Fúrias o perseguirem dizendo "lembre-se de sua obrigação com seus anfitriões". A punição dele no Submundo foi a de ficar girando eternamente em uma roda flamejante.
₪ Minos, Radamantus e Eacos - Éacos = ex-rei de Egina, Minos = ex-rei de Creta, e Radamantus = irmão de Minos.
₪ Os vivos - Er, Odisseu, Enéias, Héracles, Teseu, foram ao Hades e voltaram vivos. Nenhum gostou muito do que viu. Aquiles já dizia: "Prefiro ser servo dos vivos do que senhor dos mortos".
₪ Palácio de Hades - onde vivem Hades e Perséfone.
₪ Pântano - onde todos os rios se encontram.
₪ Planície do Julgamento - Éaco julga quem vem da Europa e Radamentos os Asiáticos, mas Minos tem o privilégio da decisão final. Radamantus governa o Tartaros, castigando os malfeitores e forçando as confissões.
₪ Rio Aqueronte - o 'mau rio', o pestilento, delimita o limbo.
₪ Rio Cócitos - rio dos gemidos, o rio congelado.
₪ Rio Eridano - nunca visto por qualquer mortal.
₪ Rio Estige - rio das promessas inquebráveis.
₪ Rio Flegetonte - rio de sangue fervente que tortura os violentos.
₪ Rio Lethe - rio do esquecimento, quem bebe dele perde a memória de si mesmo.
₪ Sísifo - rei de Corinto, tentou enganar a morte indo para o Submundo sem moeda nem funeral, pedindo então para ser mandado de volta. Depois de morrer de velho, Hades deu um jeito de ele não conseguir se libertar de novo: forçou-o a empurrar uma pesada rocha arredondada por uma colina. Quando ele quase chega ao topo, ela rola para baixo novamente e ele tem que começar tudo de novo, ficando eternamente nessa tarefa.
₪ Tântalos - chamou os deuses para um banquete mas não achava nada que lhes fosse digno, então serviu o próprio filho Pelops, seu bem mais precioso. Os deuses ficaram horrorizados, Atena trouxe Pelops de volta à vida e os deuses mataram Tantalos. Como punição, ele foi colocado em uma poça com uma árvore cheia de frutos suculentos penduradas sobre ele. Assim ele pena com insaciáveis e extremas sede e fome, pois, quando ele alcança um fruto, a árvore balança para fora do alcance dele e, quando ele se curva para beber da água da poça, ela se move para longe também.
₪ Tartaros - tão distante da terra quanto a terra é do céu; reino de Érebro (o qual é pura Escuridão/Trevas). Para lá foram os Titãs que se voltaram contra os deuses, Salmoneus que imitou o trovão/raio de Zeus, Títius que tentou violentar Leto, Íxion e Pirítous que tentaram raptar Perséfone, os Ciclopes e os Hecatoncheires (ou Centímanos: 3 gigantes, cada um com 50 cabeças e 100 mãos). Lá vivia a carcereira Campe, um monstro que Zeus destruiu, e ainda vive Eurínomus, que come as carnes dos cadáveres, deixando só os ossos. Entre os crimes punidos no Tartaros estão os que em vida odiavam seus irmãos, os que golpearam seus pais, os que adoravam fraudar seus clientes, os que mantém sua riqueza para si sem compartilhar (estes são a maioria lá), aqueles que mataram por adultério, os que se envolviam em traição, os que corrompiam a lei e viravam ditadores, os que entravam na cama de suas filhas, e mais um interminável catálogo de crimes, cujas punições inflingidas também eram de uma lista interminável, como girar imensas pedras, rodopiar, sentar na Cadeira da Indiferença/Esquecimento, entre outras coisas. Os de piores crimes ficavam no Tartaros sem nunca emergir. Outros, curáveis, eram atirados lá por um tempo até que as ondas do Cócito e do Flegetonte os lançasse para fora de novo. Então eles eram carregados pelo Aqueronte, onde imploravam àqueles a quem fizeram mal para deixá-los sair. Se as preces deles fossem ouvidas pelos que se irritaram com eles, eles podiam sair e sua doença cessava. Senão, eles voltavam ao Tartaros para começar tudo de novo até convencer aqueles a quem fizeram mal. Os Juízes que lhes impunha essa penalidade.
₪ Tisífone - com seu manto sangrento, guarda o Tartaros dia e noite, sem dormir. Ela agride os culpados e os acoita e os ameaça segurando nervosas cobras na mão esquerda.
₪ Vale das Lamentações - onde habitam os que foram consumidos por um amor infeliz e, antes da bifurcação, ficam os que foram famosos na guerra.